domingo, 27 de março de 2016

"Pare de brincar com fogo... 
Pense bem nas coisas que   
você está dizendo, porque   
de uma hora para outra eu   
posso resolver acreditar..."


A serpente que libertei ainda não
Devorou as costelas desse jardim?
Não digeriu o néctar amniótico
De um aborto que foi cuspido
Ao mundo já enforcado?

Duas flores se fascinam
Em carícias durante a tarde.
Eden sensual que a natureza oferece.
Nada mais que a realidade embalsamada
Pelo frescor de um miasma.

Não é fácil olhar para
Uma conversa muda,
Prostrada ali no papel
Branco e quebradiço.
Um noite de sono perdida
Num dia de vigília
Não me roubará
Aquilo que nunca tive.

A realidade nua reverencia a verdade
E nos traduz toda a brandura sitiada
Num presente opaco.
A despedida nos convém...
Agora que tudo é fogo e desejo
Não poderemos mais participar do banquete.
E hora de nos recolhermos em nossos sonhos.
Agora que tudo se foi
Sem nunca ter chegado;
Agora que o passado é ausente
E o futuro presente e escasso.
Basta de poesia jovem
Basta de doçuras infinitas.
Até que o paraíso pare de chover infernos
E possamos nos tingir de 72° ardentes e úmidos.