sexta-feira, 7 de julho de 2023

"Você também  está se  aperfeiçoando
 na arte de prever meus pensamentos."



Não havia como iniciar o texto. O que poderia produzir temperatura suficiente para derreter aquela geleira que sepultava as flores caramélicas desde e para o além? Talvez nem fosse apenas uma geleira e sim a calota polar inteira. Ou várias delas. Por mais que fosse dito que seria esperado o momento exato, um sinal, uma mudança de ideia ou algo do tipo, já havia se passado muito tempo. Sete longos anos desde o último e-mail enviado. Havia uma distância abissal entre Sete Certas Letras e Sete longos anos. As últimas palavras talvez tenham sido trocadas há oito intransponíveis anos. Quase uma década! E o encontro presencial? Talvez treze frios anos distantes da Poética Mágica de Menina Inteligente. O que poderia resistir a tudo isso? Mesmo porque, havia uma certa publicação no diário oficial responsável pela alteração do nome civil. E ela seria respeitada. 

 

E foi respeitada. Até a presente semana. Uma semana como outra qualquer. Pessoas trabalhando. Clientes. Fornecedores. Manutenções. Não muitos. Somente o suficiente. Entre um movimento transeunte e outro, surge aquela imagem, focada naquele par de pálpebras -  também transeunte: uma menina que apresentava contornos de uma menina que possuía a poética mágica de ser inteligente. - Impossível! Não! Não existe outra! Muitos diriam.


 

E esses muitos que dissessem ser impossível estavam certos. Eram apenas os contornos físicos, sobretudo os faciais. Esses traços remeteram as memórias que se encontravam numa espécie de esquife congelado. Não era problema: elas possuíam livre acesso entre as lembranças e as densas camadas de gelo. E por vezes, muitas vezes, bastante vezes, quase todas as vezes elas estavam presentes ou eram evocadas por alguma conexão residual de sinapses líricas e/ou amareladas. E isso estava dentro do padrão desses treze anos: lembranças de uma vida perfeita que quase ocorreu. Ou quase perdurou. Porque o sabor dessa vida foi degustado na intimidade cardíaca que ocorreu entre dois miocárdios que estavam próximos durante o primeiro beijo.

 

O que fica encoberto é se o aquecimento global um dia vai conseguir aquecer a atmosfera terrestre, a ponto de alcançar a profundidade gélida, onde lírios amarelos são preservados, com seus caramelos amorificos intactos. Porque sim. Estão preservados. Intactos. Jamais foram deteriorados. Ou se bastaria que uma postagem do dia 04 de fevereiro de 2023 fosse um sinal, uma espécie de momento exato ou mudança de ideia para tocar aquelas flores Poli-Caramélicas.

 


O que se sabe é que a menina transeunte não conseguiu alterar a temperatura da crisálida gelada. Mas deixou um rastro de Pólen na órbita terrestre. Há quem diga que aquela visualização motivou a descoberta da postagem, mesmo com quase cinco meses de atraso. Outros talvez diriam que foi um aviso manifestado pelo próprio universo, que, mesmo depois de muito tempo, ainda ansiava em ser polifórmico. Tipo: "Corre aqui e confira você mesmo!" O processo chamou atenção pela naturalidade: bastou alguns poucos traços semelhantes serem vistos para provocar a visita junto a postagem.  A surpresa maior: o texto contido ali era o mesmo do último e-mail enviado. Nele havia um pedido do envio de sinal, caso ocorresse uma mudança de ideia.

 

Uma informação útil: há muitos vulcões na Antártida. Aproximadamente 138. Não se sabe quantos ainda estão ativos. As últimas erupções variam desde 5.800 A.C até 2008 D.C. Vários deles estão há dois quilômetros abaixo da superfície do manto de gelo. Há suspeitas que alguns lírios amarelos -  Poli-caramélicos -  descansam num ponto muito abaixo deles, praticamente fossilizados no pequeno permafrost da região. Talvez por isso não tenham sido alcançados pela força do tempo. E nem por forças tectônicas menores. Porém, existe um Certo Sétimo Vulcão que está localizado em Caeté-MG. Entre todos os vulcões do Sistema Solar, ele é o único que possui a Verdadeira e Genuína Poética Mágica Incandescente da Genuína Menina Inteligente. Seu nome é Pólen, a expressão máxima - única - e verdadeiramente amorífica possível no universo.