domingo, 10 de janeiro de 2021

"Fica  bem meu querido. 
Pensando  aqui  muito 
em você." 




Eu sei que são apenas palavras bonitas, bem arranjadas, com algum tom de poesia, com o entalhe de quem possui um enxame de tumores nos sentimentos. Mas é uma descrição básica, de momento, que se passa através de todos os instantes, de todos os dias na minha vida. Uma espécie de fotografia do tempo. Talvez um recorte cronológico de algumas frações de segundo. O equivalente a meio piscar de olhos. Não é o tempo que é diferente nesses pensamentos. O tempo não se estaciona. O tempo é o mesmo de sempre. A intensidade é que além de infinita é ilimitada. Sempre.

Se você quer dizer que é apego pueril, que seja apego pueril então. As palavras e seus respectivos significados pouco ou nada importam. O importante mesmo é a conexão que o interlocutor mantem com o vocábulo. E de forma análoga, você pode chamar do que quiser o que sinto por você. Mais importante que você nomear o sentimento seria você se conectar a ele. Sou de fato infantilmente apegado a cada instante que minha memória me sugere o seu nome. E ela o faz de forma bem peculiar: em cada molécula de tempo existe uma tatuagem com seu nome, em letras garrafais, causando um congestionamento de zeptosegundos (0,000000000000000000001 segundos). Eu sei que é a menor unidade de tempo já medida. E em cada uma delas, a tatuagem impõe mais amores sem limites. Sim. AMORES no plural. Porque eu não acredito amar você em apenas uma instância, em apenas uma frequência ou de uma maneira ou com apenas um Sergio. Eu devo me fazer múltiplo, vários, muitos, outros, todos pra poder amar você. Esta é a única explicação para meu corpo suportar o fulgor disso tudo. Talvez, há que se criar outra unidade para medir o que estou chamando de tempo aqui.

Você já ouviu a seguinte expressão: “Ruim com ela, pior sem ela?” É ruim com você me provocando os sentimentos com esses amores sem fim. Mas é bem pior sem você. Quando você estava aqui, eu conseguia liberar doses homeopáticas e as vezes abria uma gretinha nas comportas desses amores. Às vezes você se assustava. Outras vezes nem percebia. Mas ao menos aliviava um pouco a pressão das horas e seu respectivo cardume de zeptosegundos. Eu não conseguia baixar o nível do reservatório. Mas pelo menos não transbordava. Ou somente algumas vezes transbordava. E quando transbordava, ainda sim era navegável.

Posso falar tudo isso de 50 mil formas diferentes. Talvez, se eu parar pra pensar e melhorar as construções sintáticas, o texto pode ficar até mais bonito. Mais literário. Mas queria apenas um recorte temporal, do fluxo de pensamentos que me acompanha, dia após dia, desde o dia 21 de junho. Data essa que meus lábios tocaram os seus pela primeira vez. Data essa que parei a cerca de duas quadras da plenitude.

Amanhã, quando alguém ou você me perguntar, terei outras impressões - maiores e até mesmo mais profundas que essas. E mais intensas. Porque é definitivo. É irreversível. É irrevogável. É multiplicador. E é exatamente isso que explica a capacidade de pequenas frações ilimitadas de tempo abrigar tamanha intensidade: o fator é multiplicador. Exponencialmente infinito. Atemporal.

 "Sem ar..."


Nude Woman Behind the Sun by Salvador Dali, 1977

Nude Woman Behind the Sun – Salvador Dali, 1977

Eu já tive namoradas muito bonitas, Meu Amor. Padrão modelo até. Lindas de morrer. Jovens, atraentes, gostosas, boas de cama... enfim. Exceto você. 

Você rompeu todo o padrão de beleza que meus sentidos poderiam suportar e se irradiou por todo meu alcance. Difícil suportar isso. Ainda mais quando eu não queria perder nem uma fagulha das várias e múltiplas perfeições que emanavam de você.

Você não é bonita; é mais bela que quaisquer padrões de belezas previstos na atmosfera terrestre; é mais... bem mais bela que a própria beleza que, humildemente, se curva diante de toda sua exuberância.

Você não é jovem; possui encantos de eternidades infinitas que são capazes de fazer quaisquer juventudes se desfragmentar na sua presença.

Você não é "boa de cama"; é a própria voluptuosidade encarnada de forma bem gostosa e sensual. Basta você me tocar com sua pele ou com suas palavras para que minha libido vá aos extremas estratosféricos.

Você não é gostosa. É mais. É bem mais. Muito mais além que muito mais que deliciosa. Tenho desejos de fazer sexo com seus poros pra entrar em sua epiderme e ejacular amor e tesão nos gemidos do seu prazer.

Os imãs elétricos... eletromagnéticos ou mesmo aqueles de neodímio sentem inveja da força de atração suculenta e úmida que você espalha por onde passa. Você pode estar longe... muito longe. Basta um pensamento meu visitar uma lembrança minha, que na verdade é mais sua que minha, para que uma ereção duradoura me incomode e eu precise saciá-la.

E por fim, acredito mesmo que talvez você não seja você. Deve ser algo maior... ou talvez mais perto de mim. Talvez uma parte minha que esteja fora do meu corpo e que esse mesmo corpo busque através dos tempos.