E foi respeitada. Até a presente semana. Uma semana como outra qualquer.
Pessoas trabalhando. Clientes. Fornecedores. Manutenções. Não muitos. Somente o
suficiente. Entre um movimento transeunte e outro, surge aquela imagem, focada naquele par de pálpebras - também transeunte: uma menina que apresentava contornos de uma
menina que possuía a poética mágica de ser inteligente. - Impossível! Não! Não
existe outra! Muitos diriam.
E esses muitos que dissessem ser impossível estavam certos. Eram apenas os contornos físicos, sobretudo os faciais. Esses traços remeteram as memórias que se encontravam numa espécie de esquife congelado. Não era problema: elas possuíam livre acesso entre as lembranças e as densas camadas de gelo. E por vezes, muitas vezes, bastante vezes, quase todas as vezes elas estavam presentes ou eram evocadas por alguma conexão residual de sinapses líricas e/ou amareladas. E isso estava dentro do padrão desses treze anos: lembranças de uma vida perfeita que quase ocorreu. Ou quase perdurou. Porque o sabor dessa vida foi degustado na intimidade cardíaca que ocorreu entre dois miocárdios que estavam próximos durante o primeiro beijo.
O que fica encoberto é se o aquecimento global um dia vai conseguir
aquecer a atmosfera terrestre, a ponto de alcançar a profundidade gélida, onde
lírios amarelos são preservados, com seus caramelos amorificos intactos. Porque
sim. Estão preservados. Intactos. Jamais foram deteriorados. Ou se bastaria que uma
postagem do dia 04 de fevereiro de 2023 fosse um sinal, uma espécie de momento
exato ou mudança de ideia para tocar aquelas flores Poli-Caramélicas.
O que se sabe é que a menina transeunte não conseguiu alterar a
temperatura da crisálida gelada. Mas deixou um rastro de Pólen na órbita
terrestre. Há quem diga que aquela visualização motivou a descoberta da postagem, mesmo com quase cinco meses
de atraso. Outros talvez diriam que foi um aviso manifestado pelo próprio universo, que, mesmo depois de muito tempo, ainda ansiava em ser polifórmico. Tipo: "Corre aqui e confira você mesmo!" O processo chamou atenção pela naturalidade: bastou alguns poucos
traços semelhantes serem vistos para provocar a visita junto a postagem. A surpresa maior: o texto contido ali era o mesmo do último
e-mail enviado. Nele havia um pedido do envio de sinal, caso ocorresse
uma mudança de ideia.
Uma informação útil: há muitos vulcões na Antártida. Aproximadamente
138. Não se sabe quantos ainda estão ativos. As últimas erupções variam desde
5.800 A.C até 2008 D.C. Vários deles estão há dois quilômetros abaixo da superfície
do manto de gelo. Há suspeitas que alguns lírios amarelos - Poli-caramélicos - descansam num ponto muito
abaixo deles, praticamente fossilizados no pequeno permafrost da região. Talvez por isso não tenham sido
alcançados pela força do tempo. E nem por forças tectônicas menores. Porém,
existe um Certo Sétimo Vulcão que está localizado em Caeté-MG. Entre todos os
vulcões do Sistema Solar, ele é o único que possui a Verdadeira e Genuína
Poética Mágica Incandescente da Genuína Menina Inteligente. Seu nome é Pólen,
a expressão máxima - única - e verdadeiramente amorífica possível no universo.